Nada de agressões ou ataques. Apenas a apresentação de propostas. No
papel, o discurso pré-debate eleitoral da rádio 95 FM dos candidatos ao
Governo do Estado era esse. Porém, na uma hora e meia de discussão, o
que se viu foi que isso ficou só no papel mesmo. Afinal, apesar de
ressaltarem a todo momento a “não agressão”, os adversários trocaram
farpas e acusações o tempo todo. O curioso é que, depois do programa,
novamente, o discurso de “vamos apresentar propostas” foi retomado.
O candidato do PMDB Henrique Eduardo Alves, por exemplo, usou tanto o
microfone da 95 FM, quanto o seu perfil oficial no Twitter para falar
dos adversários. Depois de ouvir do principal adversário, Robinson
Faria, do PSD, que a coligação pessedista não “tem compromisso político
com sete ex-governadores e seus afilhados políticos”, o peemedebista
respondeu: “Ele fala como se não tivesse falado comigo pra me apoiar.
Por pouco, muito pouco ele não está neste palanque”.
Pelo Twitter, Henrique foi além. Retuitou uma mensagem que dizia
“Robinson não sabe o que diz, nem diz o que sabe!” e afirmou: “Robério
Paulino (candidato do PSOL ao Governo) esquece que o parlamentar é um
legislador, não é executivo. Sua tarefa é criar leis”. Depois do debate,
no entanto, Henrique voltou para sua postura crítica com relação aos
ataques: “O eleitor não quer esse tipo de debate, com ataques, quer
propostas, quer saber como vai funcionar a educação, saúde,
infraestrutura”.
Henrique atacou, mas não tanto quanto Robinson e Robério Paulino,
ressalta-se. O candidato do PSD afirmou, se referindo ao peemedebista:
“Do que adianta uma ponte, um túnel bonito e o povo morrendo de sede?” E
não foi só Henrique que foi alvo dos ataques. Robinson Faria também
afirmou que Araken, candidato a governador pelo PSL, parecia “fazer
parte do acordão”. Como resposta, ouviu “o senhor apoio Geraldo Melo,
Lavoisier, Agripino e Wilma”.
Isso porque, conforme lembrou o candidato do PSL, Robinson apoiou,
como deputado, quatro governos, inclusive, o de Wilma de Faria, que
agora é candidata ao Senado Federal ao lado de Henrique Eduardo Alves.
“Minha intenção não era bater em ninguém. É apresentar propostas, mas
parece que os adversários foram para lá com essa intenção e tive que
responder. Mas não quero seguir essa linha de quem fez isso ou aquilo,
porque não leva a nada. O eleitor já sabe quem é quem”, afirmou Araken
Farias, pós-debate. “O eleitor está interessado em propostas.
Propostas!”, afirmou Simone Dutra.
Robinson Faria afirma: “Teremos um governo técnico, com profissionais capacitados. Vamos premiar a competência”
Por falar em propostas, elas também apareceram, apesar dos ataques
tomaram um bom tempo do debate. “Não é preciso obras mirabolantes para
governar bem. Do que adianta uma ponte, um túnel bonito e o povo
morrendo de sede? Temos que ter sensibilidade para saber o que o povo
precisa hoje” descreveu Robinson.
Questionado sobre gestão pública, Robinson destacou que o Plano de
Governo da coligação PSD – PCdoB – PT é pensar o Rio Grande do Norte
para os próximos 20 anos. “Teremos um governo técnico, com profissionais
capacitados que irão criar projetos que terão apoio do governo federal.
Vamos premiar a competência e a qualificação. A nossa coligação não tem
compromisso político com 7 ex-governadores e seus afilhados políticos”
conta Robinson.
Um dos candidatos perguntou a Robinson sobre as propostas no Turismo,
destacando que é a favor do investimento da verba publicitária para o
setor. “A cadeia produtiva do Turismo, infelizmente, foi abandonada nos
últimos anos por falta do papel fomentador do Governo. O papel do
governo é ser indutor, fomentador, a mão amiga do turismo. O setor deve
ser tratado com atenção, com apoio estadual. O turismo tem que ser
pensado para atrair turista. Hoje o turismo de eventos é o que mais
atrai, mas vamos oferecer também o turismo de lazer, o turismo de
esporte, o turismo gastronômico”, defendeu.
“Também vamos criar um porto seco para escoar a produção do interior.
É preciso governança para recebermos os empresários e atrair empresas. É
preciso acabar com esse clima hostil ao empresariado”, afirmou Araken,
que prometeu ainda reduzir a incidência de ICMS, sem afetar a receita.
“A peça chave da educação é o professor. Hoje ninguém quer ser
professor. Precisamos atrair os profissionais que saem da universidade. O
professor hoje apanha de alunos. Ele precisa ser valorizado para
encantar o aluno. Vamos, sim, elevar o salário dos professores”,
ressaltou Robério Paulino.
Henrique apresenta propostas e defende a união das forças
“Sou candidato a governador. Me preparei para este momento ao longo
da minha vida pública, em que fui líder do meu partido. Fui aprendendo
com meus erros e meus acertos e fui amadurecendo”, disse Henrique
Eduardo Alves. Ainda na sua fala inicial, Henrique lembrou que o Rio
Grande do Norte vive a situação mais difícil das últimas décadas. “Nas
áreas da Saúde, educação e segurança, vivemos aflição, desencanto e
desestímulo”, observou o peemedebista.
Henrique utilizou todas as suas intervenções no debate – respostas,
perguntas, réplicas e comentários – para tratar de soluções para os
principais problemas enfrentados pelo Estado, se diferenciando de outros
candidatos que partiram para comentários agressivos e até
desrespeitosos. O candidato da coligação União pela Mudança voltou a
destacar a importância da união das forças políticas como forma de
superar o grave momento vivido pelo Rio Grande do Norte. Lembrou, ainda,
que durante sua atuação no Congresso, procurou ajudar o Estado,
independentemente de ter apoiado ou não o governador e que praticamente
todos os municípios do Estado foram beneficiados com obras e serviços
que contaram com a sua atuação parlamentar.
SEGURANÇA PÚBLICA
No segundo bloco do debate, em que foi mantida a ordem do primeiro
bloco, Henrique Eduardo Alves foi o primeiro a responder a perguntas
feitas pela equipe organizadora do evento, sobre cinco temas: Segurança,
Educação, Saúde, Infraestrutura e Economia. O peemedebista optou por
responder a uma pergunta sobre segurança pública.
Diante da pergunta “O senhor conhece a realidade da segurança
pública?”, Henrique Alves apresentou um rápido diagnóstico: “Basta andar
pelo Estado, e eu tenho andado muito, para comprovar que a segurança
pública vem deteriorando. Natal se tornou nos últimos quatro anos uma
das cidades mais violentas do País”.
O peemedebista apontou a necessidade de maior interação entre as
forças de segurança e garantiu que no futuro governo o gabinete do
governador fará o acompanhamento da gestão e de todas as ações na área
da segurança pública. Henrique afirmou que será necessário estabelecer
estado de emergência na área da segurança, realizar operações
emergenciais ao longo de seis meses e fazer uma convocação à população
para que ela possa participar e contribuir com o esforço do governo.
Lembrando que os jovens são as principais vítimas da violência e que a
insegurança é um desrespeito à população, Henrique anunciou que haverá
planejamento de ações, ocupação das áreas mais afetadas e estímulo aos
que atuam no setor. “As diárias operacionais estão atrasadas há seis
meses”, observou.
Diante do comentário agressivo feito pela candidata ao governo pelo
PSTU, Henrique pediu respeito à sua trajetória na vida pública do Estado
e do País. “Quem tem 11 mandatos de parlamentar tem o respeito do povo
do Rio Grande do Norte. Esta postura raivosa e radical não conquista um
mandato nunca. Quero saber se a Oposição pode colaborar, se não for
raivosa e desesperada. Quanto melhor a Oposição, melhor o governo”,
comentou.
EDUCAÇÃO
Ao comentar uma fala do candidato do PSOL sobre a área da Educação,
Henrique Alves defendeu que é preciso elevar os índices da Educação
Básica (Ideb) através da valorização dos professores, com monitoramento e
planejamento das ações com o propósito de ajudar a melhorar o
aproveitamento por parte do aluno. O atual presidente da Câmara dos
Deputados lembrou ter articulado junto ao Governo Federal a aprovação,
no Congresso Nacional, do Plano Nacional de Educação (PNE), que
estabelece a aplicação de 10% do PIB na área da Educação nos próximos
dez anos, tendo como uma das metas fazer com que pelo menos 50 por cento
das escolas passem a funcionar em tempo integral, com estímulo ao
ensino profissionalizante.
RECURSOS HÍDRICOS
Em pergunta e réplica ao candidato do PSOL, Henrique destacou o
esforço, como deputado federal, para garantir a retomada do projeto de
construção da Barragem de Oiticica, na região Seridó. Ele defendeu a
interligação dos principais reservatórios do Estado por meio de sistema
de adutoras que ajude a perenizar os rios e garantir o volume adequado
dos açudes, dando sustentação econômica às diversas regiões e garantindo
o fornecimento de água para consumo humano e irrigação. Henrique
lembrou que o projeto de Oiticica representa investimento da ordem de R$
54 milhões e destacou a importância da multiplicação de perímetros
irrigados como o da Chapada do Apodi, que alcançará uma área de 10 mil
hectares.
CESSÃO DE POLICIAIS
Ao responder a uma pergunta feita pelo candidato do PSL, Henrique
disse que a cessão de milhares de policiais é uma das questões a ser
enfrentadas no futuro governo como forma de melhorar a área da segurança
pública. Ele ressaltou que o número de policiais militares, em vez de
aumentar, decresceu nos últimos quatro anos no Rio Grande do Norte.
Henrique voltou a garantir que será adotado um tratamento de choque e
emergencial para dar à população a sensação de segurança que hoje é de
impunidade. Defendeu, também, a busca de parcerias público-privadas e o
apoio e investimentos de organismos internacionais. “Este caos precisa
ser enfrentado com muita responsabilidade”, arrematou.
CONTRA O RADICALISMO
Nas suas considerações finais, Henrique Eduardo Alves criticou o
radicalismo político que contribui para atrasar e isolar o Rio Grande do
Norte. Argumentou que o Estado precisa avançar, deixar de olhar pelo
retrovisor, buscando parcerias, formando talentos e equipes e que o
momento atual do Rio Grande do Norte exige responsabilidade e maturidade
dos que atuam na vida pública.
O candidato a governador lembrou que Robinson Faria, o
vice-governador de Rosalba Ciarlini, fala e crítica um suposto acordão,
mas “esqueceu” que conversou em duas oportunidades com o próprio
Henrique para tratar de aliança eleitoral e que poderia, hoje, estar no
palanque que tanto critica, ao lado dos ex-governadores que apoiou no
passado.